Gestão de risco visando a melhoria contínua

Já é de conhecimento das empresas certificadas, principalmente pelas normas da família ISO, que uma de suas bases construtivas é a abordagem de processo, que por sua vez, incorpora o ciclo PLAN-DO-CHECK-ACT, o famoso ciclo PDCA.

É sabido também que, como todo ciclo que se preza, ele deve girar.

Sim, amigos, o giro do PDCA é uma necessidade inevitável se pretendemos ter a tão sonhada e cobrada melhoria contínua em nossas vidas. Digo em nossas vidas pois, em tudo o que fazemos, deve estar presente as etapas do PDCA.

Planejar minimamente o que pretendemos fazer com os objetivos a serem atingidos, realizar a atividade de acordo com esse plano, checar se atingimos os objetivos propostos e se precisamos fazer alguma modificação, seja para melhorar o que de fato foi alcançado ou se precisamos modificar o plano para que realmente funcione. Simples assim na teoria, mas na prática, nem sempre.

Para ajudar na efetividade do PDCA, as normas ISO adotaram mais uma base construtiva, a mentalidade de risco.

Por definição, “Risco é o efeito da incerteza, que é o estado, mesmo que parcial, de deficiência de informações e conhecimentos relacionadas a um evento, sua consequência e/ou sua probabilidade”. Sempre que sabemos que algo pode dar certo ou errado, mas não sabemos precisamente quando ocorrerá e suas reais implicações, caso ocorra, temos um risco.

Vivemos gerenciando riscos a todo momento. Desde que vamos dormir até o acordar no dia seguinte, e em todas as nossas ações, como almoçar, trabalhar, nos deslocar e até ir ao banheiro, temos um risco associado, normalmente assumido com base em nossas experiências e avaliações. Vejamos esta figura:

Para alguns, saltar desta forma é algo inconcebível. “De forma alguma, nem por nenhum dinheiro ou prazer na vida saltaria num bungee-jump!” diriam alguns.

Para outros, a maravilhosa sensação de liberdade e a experiência regada a uma boa dose de adrenalina seriam justamente os motivos para o salto.

O que leva pessoas distintas a terem um comportamento igualmente distinto nessa situação?

PDCA alinhado à Mentalidade de Risco

Ao planejar o salto, as condições de probabilidade e consequências são praticamente as mesmas. Salvo diferenças em características ergonômicas das pessoas, peso, altura e saúde do indivíduo e climáticas, como vento, por exemplo, nada mais em termos de infraestrutura difere. É a mesma ponte, com elástico calculado da mesma forma para saltar no mesmo lago. Alguns irão saltar, outros não. Isso tudo baseado na sua avidez ou aversão ao risco.

Para os saltadores, as estatísticas de acidentes, o cálculo de elasticidade, velocidade do vento, momento angular dentre outros parâmetros da física experimental são suficientemente satisfatórios para sobrepujar o medo e a insegurança. Na análise do risco, ele é aceitável.

Para os não saltadores, mesmo com esses cálculos todos, é inaceitável o risco, pois se a probabilidade estiver equivocada, ou se alguma variável importante negligenciada, os danos serão irreversíveis.

Não há certo ou errado, loucura ou sensatez nessa análise. É apenas uma análise e uma decisão com base nela, como resultados de um planejamento. Mas houve um planejamento e uma análise, isso é fato.

Não se pode simplesmente negar a realização de algo com base em suposições, não fazer o planejamento nem os cálculos, por mais coeficientes de segurança e limitações que se coloquem e nada ser feito. Assim na vida pessoal, assim na empresarial.

“A mentalidade de risco habilita uma organização a determinar os fatores que poderiam causar desvios nos seus processos e no seu sistema de gestão em relação aos resultados planejados, a colocar em prática controles preventivos para minimizar efeitos negativos e a maximizar o aproveitamento das oportunidades que surjam.”

Ora, é através do planejamento dos eventos que se preveem os desvios e se traçam as alternativas para que a realização ocorra conforme idealizada.

Isso é a Gestão do Risco, que possui as seguintes etapas:

  1. Identificação dos riscos;
  2. Análise das possibilidades e consequências dos riscos;
  3. Avaliação se os riscos são aceitáveis ou não;
  4. Tratamento para aqueles que são inaceitáveis;
  5. Monitoramento geral do riscos para que não extrapolem os parâmetros avaliados.

Com essas informações para planejamento e checagem dos riscos, a execução pode ser realizada levando em consideração as consequências e probabilidades, numa matriz de fácil aplicabilidade para tomada de decisões:

Vejamos em termos práticos a melhoria associada à gestão de riscos:

Na gestão da qualidade, sempre existe o risco de algum “defeito” surgir no produto ou serviço, já que os processos não são infalíveis. Esse “defeito”, que é o efeito de um evento chamado “falha”, tem um “modo de falha”, ou seja, tem uma causa para ocorrer. Estabelecemos controles de processo e tomamos ações preventivas para eliminar as causas e para que esse evento não ocorra, com base no risco aceitável ou não. Minimizando o risco de ocorrência do evento “falha”, diminuiremos a chance de ocorrer o efeito “defeito”, e assim, melhoramos nosso produto ou serviço.

Na gestão ambiental, sempre existe o risco de “impacto ambiental”, decorrente de nossas atividades, já que os processos não são infalíveis. Esse “impacto” é o efeito de um evento chamado “acidente ambiental”, que tem um aspecto ambiental associado, ou seja, tem uma causa para ocorrer. Estabelecemos controles de processo e tomamos ações preventivas para eliminar as causas e para que esse evento não ocorra, com base no risco aceitável ou não. Minimizando o risco de ocorrência do evento “acidente ambiental”, diminuiremos a chance de ocorrer o efeito “impacto ambiental”, e assim, melhoramos nosso produto ou serviço.

Na gestão de saúde e segurança, sempre existe o risco de “dano laboral”, decorrente de nossas atividades, já que os processos não são infalíveis. Esse “dano” é o efeito de um evento chamado “acidente de trabalho”, que tem um perigo associado, ou seja, tem uma causa para ocorrer. Estabelecemos controles de processo e tomamos ações preventivas para eliminar as causas e para que esse evento não ocorra, com base no risco aceitável ou não. Minimizando o risco de ocorrência do evento “acidente do trabalho”, diminuiremos a chance de ocorrer o efeito “dano laboral”, e assim, melhoramos nosso produto ou serviço.

Seja qual for nosso sistema de gestão, se pretendemos melhorar, devemos incorporar a mentalidade de risco no ciclo. Esta mentalidade é que vai nos levar a adotarmos ações para evitar o risco, assumir o risco para perseguir uma oportunidade, eliminar a fonte de risco, mudar a probabilidade ou as consequências, compartilhar o risco ou com base em informação, reter o risco.

Também essa mesma mentalidade de risco, pensando-se em oportunidades, nos levará à adoção de novas práticas, lançamento de novos produtos, abertura de novos mercados, abordagem de novos clientes, construção de parcerias e ao uso de novas tecnologias e outras possibilidades. É a melhoria contínua em ação!

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Fábio Costa

Fábio Costa é Engenheiro e Mestre em Ciências e Engenharia de Materiais pela Universidade Federal de São Carlos/SP. Possui MBA em Gestão Empresarial pela FGV e atua desde 1996 na gestão de segmentos industriais e prestação de serviços. Especialista em Controles Gerenciais, Compliance, Gestão de Marketing, Logística, Empreendedorismo, Gestão de Processos, Custos e Fluxo de Caixa. Auditor Líder reconhecido em Sistemas de Gestão ISO 9001, ISO 14001, ISO 22000, ISO 45001, ISO/IEC 17025, FSSC e SASSMAQ, com experiência em auditorias, treinamentos e implementação de Sistemas de Gestão. 💻https://costaduran.com.br/

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