A poluição sonora e o planejamento urbano

Como vimos no último artigo sobre o tema, a poluição sonora não é exclusiva dos centros urbanos, é também presente nas cidades de médio e pequeno porte. Dentre as formas de mitigação dessa condição existem ações que podem ser tomadas no meio de propagação ou diretamente na fonte de ruído, pois está descartada as ações diretamente nos receptores.

Como mencionei, o tráfego de veículos é a principal fonte de ruído, sobretudo nas zonas lindeiras às grandes artérias de circulação, em rodovias que se aproximam das cidades ou ainda em rodovias que se tornam avenidas.

Esta situação pode ser encontrada em capitais e cidades de grande porte como no Rio de Janeiro onde o tráfego de veículos na Linha Vermelha, que liga a zona oeste ao centro da cidade e influencia a paisagem das comunidades próximas como o bairro de São Cristóvão.

As ações a serem tomadas diretamente nas fontes de ruído serão discutidas no próximo artigo, neste em especial, abordarei o efeito do meio de propagação na poluição sonora.

O planejamento urbano

O planejamento urbano pode ser uma ferramenta para corrigir e direcionar a propagação da energia sonora, ou seja, influencia diretamente no meio de propagação.

A morfologia das cidades, como por exemplo o posicionamento de edifícios nas quadras, sua altura, recuos frontais e laterais além da taxa de ocupação de lotes, podem reduzir em até 6 dB no nível de pressão sonora em uma região influindo na qualidade ambiental urbana.

A densidade populacional e de veículos são fatores que também influenciam a paisagem sonora de uma cidade, com uma ligação direta entre esses dois fatores e a quantidade de reclamações devido ao excesso de ruído nos órgãos municipais.

A densidade populacional está relacionada na forma do posicionamento dos edifícios nas quadras, alinhados, alternados ou aleatórios, nos gabaritos e recuos, de forma que podem propiciar ou não a dispersão da energia sonora.

Por exemplo, no caso do posicionamento dos edifícios alinhados nas quadras são criados “corredores acústicos” onde há uma forte tendência de concentração da energia sonora, sendo formadas assim, regiões de maior ou menor nível de pressão sonora. Essa tipologia de ocupação pode ser utilizada como parâmetro de projeto urbano, onde áreas comerciais podem ocupar tais “corredores” e as residências ficarem afastadas.

Já a tipologia alternada ou aleatória facilita a dispersão da energia sonora, mas ao mesmo tempo, não a concentra em certos pontos, tornando a paisagem sonora semelhante em toda uma região, sendo indicada para áreas apenas de ocupação residencial.

Outra forma de se reduzir a poluição sonora é dificultar a reflexão das ondas sonoras no meio urbano, por exemplo, aumentando a absorções nas fachadas tornando-as mais trabalhadas em sua forma, evitando assim superfícies lisas, e/ou utilizando acabamentos porosos e paredes verdes.

Afastar as fontes de ruído dos receptores, ao invés de aproximá-los com a redução dos recuos frontais em relação às vias de tráfego, gerado especialmente pela especulação imobiliária, facilita a dispersão da energia sonora além de distanciar a fonte de ruído do receptor.

Outros efeitos ambientais também podem ser observados devido à proximidade das edificações, como a formação das ilhas de calor, resultante do acúmulo da radiação solar nos corpos sólidos durante o dia, que não é emitida ao céu durante a noite, a redução da ventilação e a exposição da população a vibração gerada pelo tráfego de veículos.

O adensamento urbano também favorece as reflexões sonoras, ou seja, ao invés de dispersar as ondas sonoras as fachadas dos edifícios as refletem de volta, concentrando o ruído e degradando a qualidade de vida.

A vegetação rasteira, de médio e de grande porte, e as barreiras acústicas naturais, geradas pelas diferenças topográficas e taludes também são uma forma de reduzir e/ou dificultar a dispersão sonora no ambiente urbano. A implantação de praças, jardins e taludes vegetados precisam fazer parte do projeto urbano não podendo ser utilizadas apenas de maneira corretiva, e sim preventiva.

As barreiras artificiais, como muros de concreto ou alvenaria, podem também ser utilizadas como ferramentas de projeto urbano para controle da poluição sonora, mas possuem limitações como a redução da mobilidade de pedestres, redução da ventilação, em alguns casos o sombreamento das edificações além da possibilidade de acidentes.

Desta forma, essas intervenções são recomendadas somente em casos específicos como em rodovias onde há espaço para sua construção. Ou seja, as intervenções no meio de propagação não são possíveis, ou são raras de se conseguir, se não fizerem parte do planejamento urbano e forem implantadas antes da consolidação da ocupação.

Assim, não é possível a mitigação da poluição sonora nas cidades sem a intervenção do poder público, principalmente o municipal, que define a ordenação de uso e ocupação do solo.

Aliás assunto interessante para abordar com os candidatos e vereador e prefeito de sua cidade. O que eles pensam sobre o assunto, quais suas propostas?

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Prof. Dr. Luiz Antonio P. F. de Brito

Prof. Dr. Luiz Antonio Brito, é membro titular do Instituto Brasileiro de Avaliação e Perícias em Engenharia, IBAPE, e Profissional certificado pela Sociedade Brasileira de Acústica, SOBRAC, Diretor da Acústica Aplicada, que é uma empresa especializada em análise e controle da propagação do ruído e vibração no meio ambiente, acústica arquitetônica e ambientes fabris. Executa laudos e perícias seguindo as determinações do CONAMA. ✉ brito@acusticaaplicada.net

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